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Recentemente publiquei num grupo de mulheres viajantes como subi o Monte Fuji sozinha, sem guia, em um só dia e sem falar japonês. E das 74 perguntas que recebi, a maioria não era sobre a subida em si, mas como eu me virei sem falar a língua local.
Percebi que o fato de não falar a língua de um determinado país é o que impede boa parte daquelas mulheres de viajar sozinha. Como já tive esse receio, divido com vocês algumas dicas aqui que me ajudaram a superar essa barreira.
Se você tem mais dicas, compartilha com a gente nos comentários!!!
1 – Seja campeão do Imagem e Ação
É sério! Os brasileiros têm uma vantagem de serem, em sua maioria, bem expressivos. E quando você não entende nada do que a outra pessoa está falando, começar a gesticular faz toda diferença.
Quando era adolescente eu era campeã do jogo Imagem e Ação. Sempre fui boa de fazer gestos malucos e me fazer entender. Até quando saia uma carta do tipo “Rosa Púrpura do Cairo” eu dava um jeito. Isso criou uma habilidade de gesticular. Existem alguns gestos que são conhecidos em qualquer parte do mundo e podem salvar sua viagem.

2 – Aprenda o basicão
Sim, não, banheiro, comida, metrô, ônibus, por favor, quanto custa, onde fica, hotel, eu sou brasileira. Pronto. Se você aprender o básico da sobrevivência, o resto você vai pegando. No Japão eu aprendi só isso e consegui sair do meu alojamento, pegar todos os mil ônibus e trens que me levaram pro Monte Fuji e voltar ilesa.
3 – Cara crachá
No Qatar eu tinha um paradinha muito massa. Quando eu fui fazer o intercâmbio na AL Jazeera, eu ganhei um cartão/crachá que tinha meu nome, o endereço do meu hotel, quem eu era, o que eu tava fazendo alí, como quem lesse poderia me ajudar, o telefone do meu responsável por lá. Tudo isso em árabe.
Tive um desse parecido também que me foi oferecido pela JICA no Japão. Não faço ideia do que mais tinha escrito lá. Mas quando estava perdida numa estação onde desci errado, eu mostrei o cartão para uma japonesa, ela começou a rir e me levou para a estação onde deveria pegar o trem de volta ao alojamento.
Antes de sair, faça o seu cartão de emergência! Coloque infos básica lá. Peça ajuda de alguém que saiba a língua de onde você está indo ou usa o Google Translator mesmo.
4 – Gatinho do Shreck
Acredite: o mundo não é tão perigoso quanto anunciam por aí. Existem pessoas incríveis dispostas a ajudar. Sempre dizem que francês é mal humorado e grosso. Rapaz… a França foi um dos países onde mais me ajudavam. No metrô, por exemplo. Era só eu fazer cara de perdida e alguém se oferecia para me ajudar. Homens, meninas adolescentes, senhoras de idade.

Experimenta abrir o mapa no meio de uma cidade turística e fazer cara de perdida ou perdido e de que precisa de ajuda. Alguém provavelmente vai te dar uma força. Tem uma galera que tem um prazer enorme em ser útil, em ajudar o próximo. Nestes vários anos de viajante maluca, sempre confiei em estranhos e nunca me arrependi.
É lógico que você tem que ter cuidado. Não vai sair atrás de qualquer um, nem se meter em becos estranho seguindo um cara qualquer. E tem que ter aquela intuição. Eu, por exemplo, fico ligada em gente que me oferecendo ajuda sem eu pedir.
Se você estiver na dúvida, procure servidores públicos e pessoas que tenham comércio na região. Policiais, seguranças, bombeiros, donos de restaurantes, atendentes de lojas. Essas pessoas estão acostumadas a atender gente perdida e tem o mínimo de confiabilidade.
5 – Gadgets e apps pra que te quero
No Marrocos eu vi um aparelhinho muito legal! Ele traduzia tudo de forma simultânea pro inglês. Tinha um desses no Japão também. Eu sou muito murrinha em viagens, então não comprei e nunca testei, mas os reviews são bons!
Eu também quase nunca compro chip. Fico usando o Wi-Fi de graça por aí. Mas se você ainda não tem confiança para ir sozinha, compre um chip com internet ilimitada pro seu celular e dá-lhe Google Translate, que agora traduz até imagem!

6 – Seja ridículo
Eu tinha um bloqueio enorme com espanhol. Apesar de ter pego o básico na universiade, sempre que me atrevia a falar, achava que tava falando um portunhol bizarro. Morria de vergonha e não queria nem tentar. Me achava a pessoa mais ridícula do universo.
Isso até 2016, quando decidi fazer o caminho de Santiago de Compostela. Como peguei o caminho primitivo, o menos lotado dos caminhos, não encontrava ninguém que falasse inglês. Logo, tive que me arriscar a falar umas coisas em espanhol.
Percebi que as pessoas estavam me entendendo, mesmo fazendo uma mistureba de italiano, francês, inglês e português. Era ridículo. E vi que não tinha problema ser ridículo. O importante era me comunicar e eu estava fazendo isso.
Depois de 15 dias caminhando e me propondo a mostrar minhas fragilidades no idioma, eu dei um salto absurdo na língua. Eu mostrava que não sabia, mas que estava disposta a aprender. Como só falei espanhol, peguei o vocabulário rapidinho.
No fim da viagem, eu tinha me juntado a um grupo e virei a intérprete! Como metade não falava inglês e a outra desconhecia o espanhol, eu fazia o meio de campo entre todo mundo. Mesmo sem ser perfeita, vai lá e faz.
7 – Tempo tempo tempo tempo
Normalmente a gente não tem controle de nada. Se não sabe a língua do lugar, menos ainda! A chance de algo dar errado é gigante!!! Logo, faça tudo com bastante antecedência. Nada de horários apertados.
Se meu voo é as 10h da manhã, eu me planejo pra chegar lá às 6h. Sabe Deus o que pode acontecer. Agora ano Japão eu tinha três horas de folga até pegar o voo. Como tava me achando a conhecedora de Tóquio, pensei que dava tempo de ir ao centro da cidade.
Essa confiança quase me custou 4 mil reais. Eu entrei no trem sem checar mil vezes como fazia antes. O trem era expresso. Não parou na parada seguinte, como eu esperava, só parou meia hora depois em outro bairro bem longe de Tóquio.
Quase morri. Por um minuto não sentei no chão do trem e cai no choro. Um senhorinha de uns 70 anos que me acalmou e me indicou o que fazer. Na verdade ela pegou minha mão e me botou dentro do trem expresso que me faria voltar pra Tóquio. Portanto, não invente de ter horários curtos entre uma atividade e outra! Pela sua sanidade.

Bem, essas são algumas dicas. De coração, não se iniba. Se joga no mundo. Não vou mentir e dizer que é fácil. Os primeiros três dias no Qatar sozinha, por exemplo, quase entrei em depressão. Mas mesmo se acontecer isso com você, é um aprendizado. Olha esse post aqui!
O importante é você se permitir viver algo único, aprender com isso e se divertir mesmo quando você achar que tá pedindo um sorvete e aparecer um miojo na sua frente. Ou pior! Quando você tá pensando que pegou o trem pro aeroporto de Milão e na verdade descobrir que tava indo pra Suiça. Acontece.
Ah! Na dúvida diga que é brasileiro. Quase que certeza que vai rolar um sorriso e um predisposição bem maior na hora de receber ajuda. E sorria também! Sorrir abre caminhos e é universal!!!

Já passou por algo parecido ou tem algum história legal? Compartilha com a gente nos comentários!
2 comentários
Adorei
Valeu pelo retorno, Mariza!!!! Essas dicas já me salvaram