No ano passado, vi meu amigo Braitner Moreira carregando um livro de um escritor sérvio. Achei curioso e quis saber como ele tinha descoberto aquele exemplar. Seria uma revelação literária, um novo best seller, indicação de um amigo que curte livros mais alternativos?
Que nada! O Braitner decidiu ler um livro de cada país que jogou a Copa do Mundo de Futebol em 2018. Achei genial!!! Um forma incrível de entender um pouco mais de cada um daqueles países que disputariam o torneio por meio da leitura.
Uma experiência riquíssima que ele compartilhou no perfil dele no Medium e pedi para publicar aqui também. Dá para você ter ideia de livros bacanas e buscar novos autores para sair da mesmice. Olha só a lista e a classificação de cada um dos livros na tabela dele!

Se a Copa fosse de livros, minha final seria Irã x Costa Rica
Braitner Moreira
Não fosse essa entidade sociocultural chamada Copa do Mundo de Futebol, dificilmente eu saberia apontar qualquer país no globo nem teria um guia mental de sobrenomes comuns em cada região do planeta.
Mas as Copas existem a cada quatro anos, e foram elas que me fizeram descobrir o quanto o mundo é gigante. Cada detalhe minúsculo sobre EUA-1994 ou França-1998 me fascinava, me fazia querer entender mais cada um daqueles paísesões ou paísesinhos, sair correndo de uma cidadezinha do interior de Minas para o resto do mundo.
Na véspera de Rússia-2018, resolvi que a Copa me levaria a livros que eu jamais conheceria de outra forma. Transformei o ano inteiro em um desafio: ler 32 obras de países diferentes, cada uma representando uma seleção classificada para o Mundial. Ou seja, nada de Estados Unidos, Chile, Itália…
O que ganhei com isso? Tudo. Vivi um choque cultural constante e isso me fará repetir a frase de Umberto Eco que citei há 365 dias: “Aos 70 anos, quem não lê terá vivido uma só vida: a própria. Quem lê terá vivido 5 mil anos”.
Aqui embaixo, porque chegou a hora da diversão (ou da maldade, se essa tabela chegar a algum dos autores), resolvi simular uma Copa com os 32 livros que passaram 2018 comigo. As regras são as mesmas da Fifa, os grupos são os mesmos, os cruzamentos são os mesmos, só os resultados mudam.
GRUPO A
- Rússia (Anna Kariênina, de Liev Tolstoi)
- Arábia Saudita (Nômade, de Ayaan Hirsi Ali)
- Egito (O ladrão e os cães, de Naguib Mahfuz)
- Uruguai (A trégua, de Mario Benedetti)
Classificação: Rússia 9 pontos, Uruguai 6, Arábia Saudita 3, Egito 0.
GRUPO B
- Portugal (As intermitências da morte, de José Saramago)
- Espanha (Assim começa o mal, de Javier Marías)
- Marrocos (Canção de ninar, de Leïla Slimani)
- Irã (O alforje, de Bahiyyih Nakhjavani)
Classificação: Irã 9, Portugal 6, Espanha 1, Marrocos 1.
GRUPO C
- França (Cândido, de Voltaire)
- Austrália (Bando de Kelly, de Peter Carey)
- Peru (Pantaleão e as visitadoras, de Mario Vargas Llosa)
- Dinamarca (Nada, de Janne Teller)
Classificação: Peru 7, França 7, Dinamarca 3, Austrália 0.
GRUPO D
- Argentina (O aleph, de Jorge Luis Borges)
- Islândia (O silêncio do túmulo, de Arnaldur Indridason)
- Croácia (O sofrimento de Deus, de Boris Gunjevic e Zlavoj Zizek)
- Nigéria (Meio sol amarelo, de Chimamanda Ngozi Adichie)
Classificação: Argentina 7, Nigéria 7, Croácia 3, Islândia 0.
GRUPO E
- Brasil (O sol na cabeça, de Geovani Martins)
- Suíça (A promessa & A pane, de Friedrich Dürrenmatt)
- Costa Rica (Cantos das guerras preventivas, de Fernando Contreras Castro)
- Sérvia (O último livro, de Zoran Zivkovic)
Classificação: Costa Rica 9, Brasil 4, Suíça 4, Sérvia 0.
GRUPO F
- Alemanha (Sidarta, de Hermann Hesse)
- México (Chão em chamas, de Juan Rulfo)
- Suécia (Inferno, de August Strindberg)
- Coreia do Sul (Flor Negra, de Kim Young-Ha)
Classificação: México 7, Alemanha 7, Coreia do Sul 3, Suécia 0.
GRUPO G
- Bélgica (Os escrúpulos de Maigret, de Georges Simenon)
- Panamá (A boina vermelha, de Rogelio Sinán)
- Tunísia (Um conto tunisiano, de Hassouna Mosbahi)
- Inglaterra (O sentido de um fim, de Julian Barnes)
Classificação: Inglaterra 9, Bélgica 4, Panamá 2, Tunísia 1.
GRUPO H
- Polônia (A guerra do futebol, de Ryszard Kapuscinski)
- Senegal (A vida em espiral, de Abasse Ndione)
- Colômbia (O general em seu labirinto, de Gabriel García Márquez)
- Japão (O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação, de Haruki Murakami)
Classificação: Colômbia 9, Polônia 6, Japão 3, Senegal 0.
OITAVAS DE FINAL
- Anna Kariênina (Rússia) x As intermitências da morte (Portugal)
- O alforje (Irã) x A trégua (Uruguai)
- Pantaleão e as visitadoras (Peru) x Meio sol amarelo (Nigéria)
- O aleph (Argentina) x Cândido (França)
- Cantos das guerras preventivas (Costa Rica) x Sidarta (Alemanha)
- Chão em chamas (México) x O sol na cabeça (Brasil)
- O sentido de um fim (Inglaterra) x A guerra do futebol (Polônia)
- O general em seu labirinto (Colômbia) x Os escrúpulos de Maigret (Bélgica)
QUARTAS DE FINAL
- Anna Kariênina (Rússia) x Meio sol amarelo (Nigéria)
- O alforje (Irã) x Cândido (França)
- Cantos das guerras preventivas (Costa Rica) x O sentido de um fim (Inglaterra)
- Chão em chamas (México) x O general em seu labirinto (Colômbia)
SEMIFINAIS
- Meio sol amarelo (Nigéria) x O alforje (Irã)
- Cantos das guerras preventivas (Costa Rica) x Chão em chamas (México)
DISPUTA DE 3º LUGAR
- Disputa de 3º lugar é uma coisa idiota.
FINAL
- O alforje (Irã) x Cantos das guerras preventivas (Costa Rica)
Por falta de tempo na virada de ano, não consegui produzir um texto para acompanhar cada um desses jogos imaginários.
Reclamações e discussões, portanto, serão resolvidas no bar mais próximo (preferencialmente) ou na caixa de comentários abaixo.
3 comentários
Parabéns pela postagem. Muito interessante, pois sempre falo que aprendemos de várias formas inclusive com a experiência do outro. Isto é incrível, ótima sacada conhecer os países através da literatura, em um evento como copa do mundo em que nossos olhares estão voltados mesmo para todas as culturas. Maravilha!
Concordo plenamente, Kirlley!
Babi, nem terminei de ler o post (confesso, mal comecei) mas já vim aqui registrar: que ideia ab-so-lu-ta-men-te genialllll a da “Copa do Mundo em Livros”!!! Adoooorei!!! Obrigaduuuu!