
Cueva del Esplendor
Quem escreve para o blog hoje é Leandro Discaciate.
Essa é a história de um viajante que se encantou com uma cidade e, ao se deparar com esse oásis de tranquilidade, decidiu parar um pouco e apreciar o momento. Tudo a ver com o Descobertas Bárbaras, não é?
Em 2015 passei um mês viajando pela Colômbia e me encantei com a sua beleza e diversidade. Meu destino predileto não aparece na maioria dos guias de turismo e ainda é pouco popular entre os turistas internacionais. Estamos falando de Jardín, no distrito de Antioquia. Trata-se de uma pequena cidade, localizada a 131 km de Medellín e com menos de 15 mil habitantes.
A minha história com Jardín começou como a da maioria de vocês: pesquisando e lendo na internet. Na busca por lugares interessantes para visitar encontrei imagens de uma caverna com uma cachoeira dentro, a Cueva del Esplendor. Comecei então a ler relatos sobre a cidade mais próxima: Jardín. A pesquisa não deixou dúvidas, a cidadezinha devia constar no meu roteiro.
Logo na chegada pude confirmar as boas impressões. As casas com suas fachadas coloridas, o clima agradável e a hospitalidade dos moradores saltaram aos olhos. Nos dias de semana impera a calma e o tempo parece passar arrastado. Nos finais de semana a cidade fica cheia e agitada, com a chegada dos turistas vindos de Medellín. Dava para contar nos dedos quantos eram gringos.
Como toda cidade colonial que se preze, a vida de Jardín gira em torno da plaza central. É na plaza El Libertador que se encontra a principal construção da cidade, a catedral Basílica de la Inmaculada Concepción, construída em 1918 e considerada patrimônio histórico da Colômbia. A região também tem os seus encantos naturais.

Plaza El Libertador, Jardín
O QUE FAZER
Jardín não é uma cidade de infindáveis atrações. Em dois dias dá para conhecer as principais e ainda assim sobra um pouco de tempo para a cidade. Se você decidir parar e esquecer um pouco a correia de um mochilão, pode adicionar alguns dias para não fazer nada. As atrações que eu recomendo:
1 – Plaza El Libertador
A praça é sempre cheia de vida. Começando com vendas de frutas pela manhã, passando pelo encontro de jovens depois das aulas e finalizando com o movimento de famílias pelos bares e cafés. Além de alguns velhinhos que parecem estar lá o dia todo, sempre observando o movimento. Por apenas 800 COP (menos de um real) é possível tomar um cafezinho em um dos muitos cafés da praça. Estamos em uma região de produção de café e eles se orgulham muito da qualidade do produto. Uma recomendação: é um excelente lugar para parar observar, escrever e ler um bom livro (se aceitam uma sugestão, leiam algum do Garcia Marquez). Vale também andar pela cidade e ir apreciando as cores e formas de cada construção.
2 – Cueva del Esplendor
A Cueva del Esplendor fica a somente 12 km de distância de Jardín. É possível ir por conta própria, mas o recomendado é contratar um guia. Os passeios podem ser feitos a cavalo, com um trecho de uns 30 minutos que deve ser feito a pé, ou inteiramente a pé. Independente de como você decida fazer a jornada, você deverá pegar um jipe até o início da trilha e seguir, a pé ou a cavalo, pelos próximos 4,5 km. As caminhadas começam às 08h. É possível fazer rapel e nadar na caverna.
Os jipes retornam por toda a tarde, com o último saindo às 17h30. Cuidado para não perder, senão você terá de amargar uma longa caminhada de volta. Eu tinha decidido voltar andando, batendo fotos do caminho. Uma chuva estragou os meus planos, mas felizmente acabei conseguindo uma carona com um criador de cavalos que estava retornando com uns 10 cavalos para uma fazenda próxima da cidade. Essa foi uma das mais gostosas experiências de toda a minha viagem à Colômbia: me sentir um verdadeiro fazendeiro paisa.
3 – La Garrucha
Teleféricos são populares na Colômbia, sendo usados tanto por turistas quanto por moradores. Jardín tem dois, ambos levando para montanhas diferentes. O mais antigo é o La Garrucha, todo feito de madeira. O passeio é uma atração por si só e custa 3.500 COP (menos de R$ 4,00). Um pequeno bar no topo permite que você tome uma cerveja enquanto aprecia a vista.

La Garrucha. Foto: Daniel Toror
4 – Cristo Rey
O segundo cable car, mais moderno, leva para um monte com um mirante e com a obrigatória estátua do Cristo no topo. Também tem um restaurante no mirante. É possível retornar do passeio andando, contornando a montanha. O caminho passa por fazendas da região. Trilha super tranquila e agradável, de apenas meia hora. Recomendo.
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5 – Reserva Gallito de Roca
Uma caminhada curta de 15 minutos leva até essa reserva particular, com uma grande concentração de pássaros Gallito de Roca (rupicola peruvianus). A entrada para estrangeiros é de 10.000 COP. Vale pelo passeio e pela chance de ver essa bela ave.
6 – Casa Museo Clara Rojas Pelaez
É um museu simples e pequeno, mas ainda assim vale a visita. É mantido em uma casa construída em 1888 e conservada com mobílias da época colonial. Conta também com um interessante acervo de fotografias antigas.

Teto do museu Clara Rojas Pelaez
7 – Fazendas de Café
Eu não fiz nenhum passeio para as fazendas de café, já que a minha viagem incluía uma outra região produtora. A disponibilidade de passeios é boa e eles podem ser agendados diretamente na cidade. Pelas notas do Trip Advisor parecem valer a pena. A fazenda mais popular é a Finca Milena.
8 – Dulces de Jardín
Poderia figurar somente na parte de “o que comer”, mas a confeitaria Dulces de Jardín é uma atração por si só. Lembre que você está de férias, esqueça a dieta por uns minutos e se delicie com os doces, considerados por muitos como os melhores da Colômbia.
9 – Plaza El Libertador
Opa! Já falamos dela. Mas a lista é mesmo cíclica. Depois de passar por todos esses lugares, vale a pena parar de novo na praça, pedir mais um café e ver um pouco mais da vida passar.
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UM “SORRISO” E A VONTADE DE FICAR MAIS UM INSTANTE
A lista acima dá uma boa noção das atrações de Jardín, mas acaba sendo insuficiente para ilustrar o maior encanto desta cidade: o povo. Foram inúmeras experiências. Para citar algumas:
O senhor que me viu passando em sua fazenda e fez questão de me mostrar a sua plantação de frutas e seu grande troféu: uma placa de preço de um supermercado europeu, mostrando que as suas frutas “exóticas” custam mais de um euro na França. Não deixou eu sair sem provar algumas delas.
A senhora dona da pousada que eu fiquei, com seu riso frouxo ao ouvir que eu queria ficar mais um dia… e mais um… e mais um… Ela gargalhava e dizia que eu ainda ia me mudar para Jardín.
O cavaleiro que me salvou de uma enrascada ao me oferecer uma “carona” em um dos seus cavalos e pediu uma ajuda para levar uns 10 cavalos de volta para a cidade e que se negou a aceitar qualquer pagamento pela carona. Ele não precisava de ajuda para trazer os cavalos, faz isso com frequência. Era só uma desculpa para fazer uma gentileza.
O padre que perguntou se eu estava gostando da cidade, se eu já tinha visto a Basílica e me convidou para a missa.
Esses são apenas alguns exemplos da fantástica experiência que tive com o povo colombiano. O tipo de atração que não se paga e que só acontecem com quem pára um pouco para ouvir, interagir e experimentar.
Há alguns anos, o governo colombiano fez uma campanha para fomentar o turismo, o slogan era “o perigo é você querer ficar”. Fui para Jardín para ficar dois dias… Acabei ficando cinco e parti com a vontade de ficar mais. Sou prova viva: o único perigo é querer ficar.
COMO CHEGAR
A maioria dos viajantes vêm de Medellín. É fácil e não precisa de agências de turismo. As empresas Rapido Ochoa e Transporte Suroeste Antioqueno fazem esse trajeto, com umas 8 saídas diárias cada. Todos os ônibus saem do Terminal Sul (cuidado, são dois terminais principais em Medellín. Não é raro ver turistas se confundindo). Na época que eu fui a passagem custava 25.000 COP, ou R$ 27,00 (viajar de ônibus na Colômbia é um excelente negócio). Apesar de serem apenas 131 km a viagem de ônibus leva mais de 3 horas, já que a estrada passa pelas montanhas da região. Aguente os sacolejos do caminho e aproveite a paisagem. Pegue um lugar na janela, de preferência no lado esquerdo do ônibus.
O QUE COMER
Não faltam opções, de maneira geral a qualidade e os preços são bons. O custo fica entre 10.000 e 25.000 COP (já podemos parar de fazer a conversão?). Gostei muito do Café Europa, com suas deliciosas pizzas. Para quem quer carnes, recomendo o Parrilla & Costilla. Além dos restaurantes, também vale a pena experimentar um pouco da comida de rua.
ONDE FICAR
Também são muitas as opções de hospedagem, com custos entre 75.000 a 250.000 COP. Na época eu não encontrei nenhum hostel dentro da cidade. Um bem recomendado é o Hostel Canto de Agua, mas fica a 5 km da cidade. Como eu queria ficar próximo do centro, optei pelo Hostal Fami Fundadores. Simples, arrumadinho, bem localizado e com uma dona absurdamente simpática.
Um hostel novo, dentro da cidade, e que está bem recomendado é o Sgt. Pepper’s Hostel. Se eu fosse hoje, experimentaria ele.
E aí, animou? A Colômbia é um destino imperdível. Embarque e não tenha medo.

Jardín - Colômbia
Informações e preços de novembro de 2015. Cotações de maio de 2017. Fotos por Leandro Discaciate, com exceção das indicadas.
2 comentários
Fala Leandro! Bacana o seu relato de viagem. Pelo jeito é um destino pouco usual dos brasileiros, pois há bem poucas informações de viagens para Jardín em português.
Como é a contratação de guias para a Cueva del Esplendor? Você tinha alguma referência? E tem grupos saindo todos os dias para lá?
Valeu aí e parabéns pelo post!
Tudo bem Luís? É um destino bem pouco usual para brasileiros. Já fui duas vezes a Colômbia e vi poucos brasileiros fora do eixo Medellín, Bogotá e praias.
Com relação a Jardín, fui duas vezes. A viagem que rendeu esse relato foi em 2015 e depois eu fiz questão de voltar com a Bárbara em 2017 (ela também curtiu muito a cidade). Na primeira, foi muito fácil conseguir ir para a Cueva. A cidade não é tão popular com os turistas internacionais (algo que tem mudado muito rápido, notei uma diferença significativa entre as duas viagens) mas é bem popular com turistas locais. Então a infra é bem arrumada. Eles tem um posto de informação ao turista próximo a praça central e qualquer hotel consegue te recomendar algum guia. Você paga o passeio completo, com translado e guia.
Agora a parte chata da história: em 2017 não foi possível retornar. A caverna estava fechada, pois eles estavam reorganizando o processo. Como era muito facil, estava ficando muito cheio e sujo. Por isso optaram por fechar, para a natureza se recuperar e para o turismo se reorganizar. A informação que tenho é que em 2018 ela reabriu e segue recebendo turistas desde então. Se eu fosse você, mandava um e-mail para o hotel que você escolher apenas para confirmar.
Já que você está indo para a Colômbia, recomendo também o Valle de Cocora, em Salento. É maravilhoso. Jardín fica no caminho que liga Medellín a Salento, então ajuda como uma parada nessa longa viagem.
Ah, se for viajar de avião lá dentro, a Bárbara escreveu um post falando da low cost VivaColombia. Vale a pena ler.
Espero ter ajudado. Aproveite bastante a Colômbia.