O depoimento e as dicas de hoje são da Fernanda Otero, que está fazendo um intercâmbio na Irlanda e conta pra gente como foi assistir um evento no National Concert Hall Dublin. Olha a sorte que ela teve!
Depois de uma longa espera e muita expectativa, o National Concert Hall Dublin abriu as portas para essa brasileira aqui apaixonada por música clássica. Fui recebida pelo imponente Teatro para um concerto magnífico com a Orquestra da Rádio RTE em um repertório dedicado a Ella Fitzgerald. O dia 4 de agosto ficará marcado na minha memória.
Ainda me lembro com detalhes a primeira vez que entrei no Teatro Municipal de São Paulo, 27 anos atrás, cheia de encantamento com aqueles corredores de mármore e bronze. O hall de entrada do National Concert Hall não é tão suntuoso internamente mas tem seu charme e glamour. Tudo muito arejado e confortável, com suas casas de bebida estrategicamente colocadas para que a audiência possa saborear seu drink e relaxar enquanto espera pelo espetáculo.
O espaço é o principal local nacional para concertos de música clássica na Irlanda. Originalmente construído para a Exposição Internacional de Artes de Dublin em 1865, a estrutura foi convertida no prédio central da Universidade Dublin College (UCD) pela fundação da Universidade Nacional da Irlanda em 1908. Na década de 1960, a UCD começou a ser transferida para outro espaço e parte do edifício foi reformado e reaberto como NCH em 1981. Em 2005, UCD transferiu todas as suas faculdades para o novo centro, permitindo que a sala passasse então a abrigar a RTE Orquestra Sinfônica Nacional, Orquestra Barroca da Irlanda, Coro da Irlanda, e o Crash Ensemble.
Logo na entrada, sorte minha: desconto do ingresso! Por 10 Euros consigo um assento no espaço destinado ao Coro principal, bem embaixo do grande órgão, com visão privilegiada para a plateia e para o Maestro. É sempre interessante ver as expressões do Maestro…
Um casal de irlandeses sentou-se ao meu lado e eu não pude resistir ao impulso de aplaudir a Orquestra assim que o primeiro músico pisou o palco. Ninguém me acompanhou! Alguns minutos antes das 20 hs, os músicos estavam todos em seus lugares esquentando seus instrumentos para a chegada do Maestro. A Orquestra com cerca de 70 músicos contou ainda com uma solista convidada, Clare Teal, com seu ‘vozeirão’ de cantora de Jazz para ninguém botar defeito.
Discretos aplausos para o Maestro, o Trompetista Guy Baker, e a Orquestra ataca com a primeira música do setlist e eu quase tombo do banco! A energia da discreta sala de concertos de Dublin é forte e a acústica simplesmente perfeita! A solista com sua voz gigante e cheia de suingue me remeteu para lugares que não conheço mas que estão em minha memória desde sempre. Uma hora de música perfeita e o som dos trombones explodindo na minha cara, ventando em mim. A banda que segurou o Jazz merece muitos aplausos pois não fosse a força do baixista do País de Gales, a harmonia estaria comprometida. E ele não parou de dançar um minuto, no melhor estilo dos intérpretes de Jazz.
A Orquestra estava vestida formalmente, homens com paletó e gravata borboleta e mulheres de longo e salto. A surpresa veio com a performance no medley para Ray Charles. Descontraídos, eles bateram palmas e cantaram, interagindo com a música e colorindo a noite.
Intervalo. Pausa para drinks e toilete. Na volta, eu aproveito para comentar com o casal ao meu lado: de onde venho, cada vez que a Orquestra pisa o palco, a plateia aplaude. Eles pacientemente me explicam que aquele não era um concerto formal. Eu fiquei me perguntando se já tinha ido em algum concerto não formal pois achava que todos os concertos eram formais….
A Orquestra volta ao palco e mais uma surpresa: o Maestro trompetista desceu do seu pequeno praticável e se misturou com os músicos em dois momentos, com solos perfeitos. Transformou a orquestra em uma Jazz Band digna dos melhores filmes do gênero. O som batendo em cheio na minha cara. Deslumbre completo!
O final se aproximou e finalmente a Orquestra conseguiu um momento de interação com a plateia: a solista pediu que as lanternas dos celulares fossem acesas para a última música. Essa imagem vista do palco ficará na lembrança do meu primeiro concerto informal no National Concert Hall.
O simpático casal de irlandeses ao meu lado se despediu e perguntou de onde eu era. Eu que não sei me comportar em concertos (formais ou não) pois preciso fazer os músicos terem a certeza de que alguém na plateia esta realmente gostando do som que eles estão fazendo, já pensei: “acho que exagerei!”. Eu sou um pouco barulhenta, admito…. “Eu sou do Brasil. É minha primeira vez nesta sala de concerto. Uma grande emoção e a Orquestra foi simplesmente precisa e perfeita!” “ Aaahhhh, tá explicado!” ele diz. Eu já complemento: somos muito parecidos, brasileiros e irlandeses e temos muito para aprender uns com os outros. Nós brasileiros aprendemos rápido. E aposto que vocês também! Noite perfeita e som incrível. Meu debut na National Concert Hall não poderia ter sido melhor!
Triste coincidência marcou a data da minha primeira visita ao National Concert.
Luiz Melodia nos deixou naquela sexta-feira, dia 4 de agosto. Melodia foi a estrela do show que me levou pela primeira vez ao Teatro Municipal de São Paulo. Minha primeira vez no Municipal foi inesquecível e ter tido a chance de ver tão de perto esse maravilhoso artista foi único. Me despedi de Luiz Melodia na mais tradicional sala de concertos da capital da Irlanda. Fique na luz Melodia, e obrigada pelo tanto bem que me fizeste!
Serviço:
O National Concert Hall fica situado no coração de Dublin atrás da St. Stephen’s Green. No endereço: Earlsfort Terrace, Dublin 2, D02 N527. Para conhecer a estrutura não é preciso pagar anda, mas a maioria dos eventos são pagos. A agenda de show muda constantemente, você confere as atrações da temporada clicando aqui.

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