Brasília, janeiro de 2017.
Na primeira vez em que eu entrei no banheiro dele eu já vi. Estava lá no canto, como que pronto para ser visto e assombrar quem ousasse invadir o território pertencente a outra pessoa.
Como é de costume, tentei fingir que não vi. Não queria que pensamentos ruins invadissem meu novo romance. Quem sabe se eu me fizesse mais presente na casa, ele desaparecesse. Mas toda vez que eu entrava, ele estava lá, firme e forte. Marcando presença, querendo ser visto a qualquer custo para assustar o sangue novo.
Tentei achar aquilo natural. Mas é difícil conviver com um fantasma todo dia. Você pode até se acostumar, mas aquilo incomoda. Não sei se a palavra é incomodar. Pode ser muito forte. Bem, pra muita gente esses tipos de fantasmas incomodam muito, destroem relacionamentos, minam, causam insegurança. Pra mim, não. Aquele fantasma era só a presença de um outro ser. Não era nada demais, mas eu não gostava de ficar sendo lembrada disso o tempo todo.
Um dia a diarista deu uma mega faxina por lá. O que fez surgir outro. Desta vez ao lado dos livros. Lá estava ele, prateado e com alguns detalhes bem únicos. Mais um anel de alguma ex-namorada. Agora o fantasma ganhava corpo. Um dos anéis tinha pedra, parecendo esses anéis que vendem na Chapada dos Veadeiros. O outro tinha inscrições de símbolos místicos. Já pensei que ela seria alguém parecida comigo, meio zen. Talvez natureba.
Como todo fantasma, eu posso muito bem estar imaginando isso tudo. Igual quando jovem a gente brincava de invocar espíritos e jurava de pé junto que o copo se mexia. Nossa imaginação tem dessas coisas.
Mas sendo imaginação ou não, os sentimentos que tais fantasmas despertam são reais. Uma leve insegurança começou a se apossar de mim. Se ele já tinha tido alguém parecida comigo, talvez eu fosse apenas uma repetição de algo que ele já teve. Eu não estava curtindo aquilo.
Tratei de usar todos meus aprendizados de Mindfulness e deixar aquilo de lado. Com o tempo percebi que eu também carrego alguns fantasmas, todo mundo carrega. E eles forjaram o ser pelo o qual eu me apaixonei. Ter se relacionado com a menina dos anéis meio hippie ou não, foi uma das coisas que fez ele ser o que é. Depois de muita meditação, hoje consigo ignorar bem aquelas entidades lá.
E essa situação me fez reforçar a necessidade que eu tenho de me livrar de objetos que me prendem a um passado também. Se eu gosto muito de uma coisa, ok. Mas se eu não preciso daquilo, se não uso e ele representa a outra pessoa o tempo todo, pra quê eu quero aquilo?
Quando saí do meu antigo relacionamento fiz questão de não levar nada da casa. O que eu queria com aqueles quadros, álbuns, sofás e sei lá mais o que compramos juntos? Eu queria era vida nova. Acho que deixei o problema dos fantasmas com ele e com o seu novo amor. Não deve ser lá muito agradável entrar numa casa com tanto da outra pessoa lá dentro. Deve ser pesado.
Outro ex guardou algumas roupas minhas no guarda roupa por quase um ano até que a noiva intimou. Ou aquelas roupas sumiam de lá em uma semana ou ela que sumia. Olha que ele mudou de casa e levou as benditas juntas. Coitada da menina. Eu já teria tacado fogo. Ainda bem que ela era compreensiva. Amo meu vestido azul marinho.
E quantas outras casas não são mal-assombradas quando a gente chega? É aquele secador de cabelo, a toalha rosa, a garrafa de uísque aberta, o absorvente, a escova de dentes azul, os livros com dedicatórias, as jóias em formato de coração, o meião de futebol. A maioria das casas acaba sendo habitada por muito mais do que seus moradores atuais.
Por mais que a gente queira se livrar de tudo, é claro que uma coisa ou outra vem ou fica com a gente e aí é administrar. Se o novo parceiro se incomodar muito, talvez vale a pena guardar melhor. Isso se o objeto for importante ou útil para você. Caso contrário, tenho uma lista de locais onde você pode vender ou doar tais fantasmas. Bazares, sites, lojas de penhora, amigos que vão adorar aquele CD do Chico Buarque.
Vale uma última dica. Não adianta fugir, fingir que não viu ou entrar em desespero. Tenha coragem para lidar com tais assombrações, conversa com seu parceiro, procura esclarecer tudo. Às vezes não é nada disso que imaginamos e o fantasma que está prestes a te atacar, nada mais é do que a cortina balançando com o vento lá fora.
1 comentário
Q interessante essa matéria ET. Convivo com isso SEMPRE. Ñ os vejo aqui em casa, mas ficam batendo nos móveis ou derrubando as coisas… pra chamar a atenção. Tipo: Estou ou estamos aqui !!
Qdo ficam pertubando d+, peço aos espíritos de luz (Corregedores) q leve-os para seus lugares de merecimentos. Claro, com a permissão do Criador do Universo.
Então, quer dizer… q Vc tem a Mediunidade de ver os espíritos (VIDENTE). Vc deveria trabalhar em prol das pessoas doentes da alma (Obsessão) em algum Centro Espírita Kardecista. Eu frequento e trabalho TODAS as 2ª feiras no Centro Espírita Luzes na 411 Norte, doando TUDO q tenho de melhor para os necessitados…
Conheça nossos trabalhos https://www.centroespiritaluzes.com.br
Será uma imensa honra recebê-la numa 2ª feira qquer.
Muita Paz e muita Luz