O poder da gratidão! O que aprendi com 31 dias de feedback positivo

Eu sempre gostei de dar feedback. Isso desde criança, quando eu nem sabia o que era feedback e essa palavra ainda não estava na moda. Eu tinha uns 8 anos quando meu chiclete do Scooby-Doo veio sem a figurinha. Pense numa criança infeliz, eu só comprava o chiclete pra ter as figurinhas. O que eu fiz? Orientada pelos meus pais, liguei reclamando na fábrica. Uma semana depois apareciam na minha caixa de correio, não uma, mas duas caixas de chiclete! É claro que deu ruim.

Aquilo era um tesouro para uma criança. Era o melhor reforço positivo do universo. Desde então meus irmãos e eu nos tornamos conhecidos pelos SAC’s de todo o Brasil. O pacote de salgadinho veio sem o tazo? A gente ligava. O picolé veio com uns gelos, como se tivesse sido descongelado e congelado de novo? A gente ligava. E assim a casa foi enchendo de pacote de fandangos, baconzitos e até um motoboy trazendo um isopor cheio de picolé.

E a gente levou isso pra vida. Hoje, de saco de chá que vem sem cordinha à companhia área que bagunçou minha mala, eu mando e-mail. Sempre de forma muita honesta e explicando que só estou escrevendo por que realmente quero que aquilo não aconteça mais. É um exercício de cidadania também.

Pare de reclamar

De uns anos pra cá comecei a dar feedback positivo também.  Se eu era bem atendida, se o produto era bom, se eu gostava de uma inovação no meu trabalho ou de um trabalho de uma pessoa eu dava um retorno, mas não era nada muito consistente.

Até que no início deste ano eu li o livro Mostre seu trabalho, de Austin Kleon. É um livro excelente, que entre outras coisas, traz a importância da gente reconhecer o trabalho dos outros que nos inspiram e mandar um retorno para essas pessoas. Daí eu pensei: e se eu desse o retorno não só pra quem inspira meu trabalho, mas pra todos aqueles que fazem meu dia melhor? Foi então que me dei o desafio de dar um feedback positivo por dia.

Fazer isso foi uma das minhas experiências mais interessantes, enriquecedoras e transformadoras que tive. Eu coloquei regras. Tinha que ser verdadeiro, não podia ser genérico, tinha que contar exatamente porque eu gostei daquele produto, serviço ou pessoa, não podia pular nenhum dia e tinha que ser atual.

O primeiro retorno foi para o DNIT! Um órgão público? Sim! Explico. Quem já pegou a BR 020 e a BR 242 saindo de Brasília para Bahia vai me entender. Meu irmão… aquilo é um tapete! Poucos dias antes eu tinha ido para BH e paguei mais de 100 reais em pedágios por uma estrada mequetrefe. Naquela eu não paguei um centavo de pedágio e tinha o paraíso. Minha viagem foi superconfortável e segura.

Essa é a pista que peguei na BR 020!

Por isso, descobri quem cuidava da rodovia, peguei o e-mail de cada um dos responsáveis pelos diferentes trechos de estrada e mandei um e-mail contando tudo isso. Eles mereciam. Um dia depois eu recebia e-mails de alguns desses servidores públicos emocionados e supresos por alguém ter notado positivamente o trabalho deles.

Gentileza gera Gentileza

Aí veio a primeira lição. Você, na maioria das vezes, fica feliz duas vezes quando dá um feedback. Feliz porque teve o prazer daquilo lá que você está agradecendo e feliz porque as mensagens de feedback do feedback geralmente são lindas. São mensagens como: isso é o que justifica meu trabalho, obrigada por tirar um tempo pra fazer outra pessoa feliz, ganhei meu dia com seu e-mail e coisas assim, que me davam uma felicidade imensa.

Empolgada, segui enviando meus retornos positivos. Pro programa de rádio e pro podcast de eu gostei, pra uma atração nova do CCBB, pra uma blogueira de moda que me fez entender finalmente como usar saia, pra empresa que faz tortilha natureba que eu amo, pra assessoria de imprensa que faz minha vida mais fácil, pra confeiteira, pra minha tia, para um escritor que eu amo, para um colega que escreveu um texto maravilhoso pro meu blog, pro restaurante novo que conheci, pra empresa que fabricou o colchão da casa do meu namorado e por aí vai.

E nesse meu compromisso, eu acabei me comprometendo também a ver o mundo de uma maneira diferente. Pelo menos uma vez por dia, eu pontuava uma coisa na minha rotina que foi excelente. Percebia e valorizava o que me dava prazer, o que tá bom agora.

Quando o motivo do feedback não vinha de forma óbvia, eu me perguntava: O que eu tenho a agradecer hoje? Teve um dia que às nove da noite eu tava voltando pra casa dirigindo e me perguntando: o que eu tenho a agradecer?  Daí lembrei que naquele dias duas pessoa reclamaram comigo dos carros delas e eu me toquei: Meu carro nunca me deu nenhum problema.

Meu carro me leva pra todo buraco, cachoeira, pirambeira e nunca chiou! E eu não cuido muito dele, esqueço de trocar óleo, calibrar pneu, colocar água no radiador. Mesmo assim, ele só me deu prazer. Então mandei um e-mail para montadora contando tudo isso.

Meu carrinho guerreiro!

Valorize o momento

Percebi como meu olhar mudou e passei a focar no que é bom e ter mais gratidão.  Isso reforçou esse hábito que tenho buscado que é apreciar o que eu tenho hoje. E ver que o agora é muito bom e se sentir grato por isso. E a ciência tá aí pra provar que o sentimento de gratidão faz um bem danado pra gente.  Uma pesquisadora de Yale apontou a gratidão como uma das principais formas de ser feliz. 

E por incrível que pareça, elogiar ainda teve um papel terapêutico. Eu tinha sérios problemas em aceitar elogios. E boa parte dos elogios que eu recebia eu achava que as pessoas só queriam ser legais comigo. Um dia uma das pessoas que eu elogiei, disse que eu tinha exagerado. Ele não era aquilo tudo, eu tinha sido apenas gentil.

Gentil, o caramba! Tudo que eu coloquei ali era verdade. Eu acreditava. Daí eu me toquei…. então é isso! As pessoas não estão sendo simpáticas comigo. Não era por educação. Elas podem realmente acreditar naquilo. Agora, na maioria das vezes que eu recebo elogios, eu sorrio e agradeço.

Agradeça a quem você ama

Bem, minha proposta era ficar 31 dias mandando feedbacks. No 28º dia comecei a pensar qual seria meu último retorno positivo, meu último agradecimento. Sei que não poderia ser mais clichê, mas decidi que escreveria aos responsáveis por eu estar aqui neste mundo, ou seja: meu pai e minha mãe.

Escrevi o quanto eu os admirava, agradeci pelo que eles me transmitiram de valores, contei várias coisas que eles fizeram por mim e pelas quais eu era eternamente grata. Depois de escrever e chorar horrores no processo, me perguntei porque diabos não fiz isso antes. Quando abri o email do meu pai, estava no trabalho e tive que usar todos meus poderes de meditação e autocontrole pra não desabar a chorar lá também.

Foram 31 dias enriquecedores! Hoje continuo sendo figurinha conhecida pelos SACs da vida, até porque acredito que é só recebendo críticas construtivas que a gente pode melhorar, mas também adotei na minha rotina parabenizar pelos acertos e agradecer mais vezes. E se você me acompanhou até aqui, desde já, meu muito obrigada a você também!

E o que você achou do blog? Aproveite para deixar se feedback, seja ele um elogio ou crítica, e ler mais crônicas assim, aqui

Ah!!! E eu também fiz uma análise do impacto do desafio no meu trabalho. Olha aqui o resultado!!!