Cem Dias Entre Céu e Mar mexe tanto comigo que mal comecei a folhear suas páginas para escrever esse resumo e tô com os olhos marejados. Acabei de ler o trecho, que para mim é um dos mais significativos, em que ele conta que estava morrendo de medo no momento da partida. Apesar disso, ele afirma que continuou porque tinha um medo muito maior…
“Se estava com medo? Mais que a espuma das ondas, estava branco, completamente branco de medo. Mas, ao me encontrar afinal só, só e independente, senti uma subida calma. Era preciso começar a trabalhar rápido, deixar a África para trás, e era exatamente o que estava fazendo. Era preciso vencer o medo; e o grande medo, meu maior medo na viagem, eu venci ali, naquele mesmo instante, em meio à desordem dos elementos e a bagunça daquela situação. Era o medo de nunca partir. Sem dúvida, este foi o maior risco que corri: não partir”
Esse trecho me faz lembrar aquelas pesquisas que fazem com pessoas no leito de morte e lhe perguntam do que elas mais se arrependem. A maioria das respostas envolve não ter feito, não ter se arriscado, não ter ido…

O livro Cem Dias Entre Céu e Mar, do Amyr Klink, traz detalhes da viagem dele entre a África e o Brasil num pequeno barco a remo. Conta todas as aventuras que ele enfrentou ao cruzar cerca de 6500 quilômetros de mar sozinho!!!
Entretanto, nunca entendi esse livro apenas como um relato de viagem. Pra mim, é um relato de estilo de vida que envolve elementos que muito admiro e persigo. Sobre eles que vou falar aqui.
Aprender a receber e ler os sinais
Pode parecer papo místico (e deve ser), mas tem horas que o universo manda alguns sinais pra gente. A vida falta só jogar uma pedrada (e às vezes joga) para te mostrar o caminho certo ou para te ajudar a alcançar o que você deseja.
Nos primeiros capítulos, Amyr Klink vai mostrando os fatos inusitados e as coincidências que fizeram com que ele conseguisse viajar. Desde um abajur de presente que o primo dele deu e que, por um acaso, era estampado com um trecho muito específico do mapa da África que ele precisava ou o fato dele encontrar uma brasileira num vilarejo do outro lado do mundo que tinha a foto da casa dele em Paraty na parede…
Sobre isso ele escreve:
“Não, aquilo não era uma sucessão de coincidências: a revista com a capa da Namibia, o contato com Maurice, o encontro com Henrique Luderitz, o abajur, o número de telefone, o retrato na casa de Helena…
Talvez nunca saiba explicar exatamente o que tudo isso significava, mas compreendi que estava no caminho certo. Entre tantos problemas e presságios negativos, quando tudo indicava que mal conseguiria pôr meu barco na água, uma luzinha me dizia que havia uma saida e que pouco a pouco eu me aproximava dela”.
Sobre se ter clareza do que se quer
Mas para receber ou perceber tais sinais é preciso estar atento. Com tantos estímulos, dúvidas e confusões, fica difícil estarmos firmes e decidimos sobre o que queremos. O essencial é ter clareza no que se quer.
“…Descobri como é bom chegar quando se tem paciência. E para se chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso, antes de mais nada, querer““Ao se caminhar para um objetivo, sobretudo um grande e distante objetivo, as menores coisas se tornam fundamentais. Uma hora perdida é uma hora perdida, e quando não se tem um rumo definido é muito fácil perder horas, dias ou anos, sem se dar conta disso.”
A importância e a leveza da Simplicidade
Se tem uma coisa que viajar me ensinou foi que eu não preciso de muito pra ser feliz. Comida, roupas, um teto e a gente tá bem. Quanta coisa a gente carrega ou acumula que não nos servem pra nada ou pesa sobre os ombros.

Nas palavras de Amyr, “é preciso tão pouco para sermos felizes”. Poucas coisas são suficientes para vivermos bem e em paz.
“Pensando bem, que mais poderia alguém no mundo desejar do que olhar nos olhos das baleias, conversar com as gaivotas sobre os azimutes da vida, procurando durante cem dias e cem noites um único objectivo e, subitamente, tê-lo diante dos olhos, ao alcance dos pés, numa tranquila tarde de terça-feira?”
Tá certo que essa viagem dele deve ter custado um rim. Mas tenho dois amigos, o Joe e a Iris do Coragem na Bagagem, que estão há dois anos na estrada andando de bike sem quase nenhum tostão. Minha mãe e eu hospedamos eles aqui em casa e posso garantir que eles são muito mais felizes do que a maior parte dos meus amigos cheios da grana.
Sobre viajar sozinho
Pra mim, algumas viagens são sessões de terapia intensivas. Acredito e repito o tempo todo que ninguém sai ileso de uma viagem. Isso quando você se propõe a sair da sua bolha. Quando se coloca para sentir o lugar, conversar com estranhos, comer comida nova, sair dos roteiros que protegem boa parte dos turistas.

E isso acontece mais quando viajo sozinha. Acho fundamental viajar sozinha uma vez por ano. Nem que seja por um fim de semana. Tenho até um acordo com meu noivo. Eu e ele prometemos que teríamos nossas viagens sozinhos todo ano, mesmo casando.
Amyr também escreve sobre isso:
“O grande problema de estar sozinho era não ter com quem reclamar das coisas que não iam bem. … Ás vezes dava graças a Deus por estar só e, num momento difícil, poder decidir com calma e sem pressões. … Um segundo tripulante não teria durado muito tempo a bordo.”
“E, isolado, também não estava. Ao redor, tudo era sinal de vida. Gaivotas e aves marinhas de todo tipo, as ondas com quem discutia, pilotos e fiéis dourados aumentando dia a dia. as imensas e amáveis baleias e mesmo os desagradáveis tubarões me faziam companhia… Tudo, menos solidão!”
Se você não leu o livro, não perca tempo! Como tenho dois exemplares, vou deixar um deles no Café da manhã coletivo que vai acontecer no Parque da Cidade, em Brasília, sábado (14/03). Mais infos aqui.

Venha para o time dos Descobridores!
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4 comentários
Que texto incrivel! Esse livro, assim como outros do Amir, me ajudou nos momentos mais difíceis e me deu coragem para tomar decisões que fizeram minha vida ter mais sentido! Obrigado pelo presente!
Alvaro!!!! Muito isso. Me arrepiei hoje naquele primeiro trecho!!! Sério… o medo de não partir era o que mais me angustiava. Eu parti… tô morrendo de medo, mas aquele medo maior, ficou pra trás.
Quem leu o livro também vai gostar do audiolivro. Aqui está: https://youtu.be/achBtzaD8V0
Valeu, Marcos!