Brasília. Agosto de 2019.
Ela pediu licença e sentou ao meu lado.
Apesar do restaurante vazio, queria sentar ali por causa da tomada. Como eu.
Começou a almoçar, enquanto mexia no celular.
Conversava por áudio com uma colega sobre como estava ocupada e cansada. Como eu.
Sobre o trabalho da escola, disse que precisavam “correr com isso”. Como meu chefe costuma falar.
Com outra colega, disse que “não era pra levar porcaria para o lanche” que precisava emagrecer.
No prato dela observei que não havia quase nada. Como minhas colegas que vivem em eterna dieta.
Ela quase não levantava a cabeça do celular, mas quando levantou, vi olheiras profundas. Como as minhas.
O almoço não durou nem quinze minutos.
Ela pediu licença e saiu apressada pois ainda tinha muita coisa para fazer. Como eu.
Mas eu… eu não consegui levantar.
Fiquei alí. Tentando entender como uma menina de uns 12 anos tinha a mesma vida, as mesmas falas, olheiras e neuras minhas, do meu chefe e das minhas amigas.
E se com 12 anos, ela era como eu. O que seria daquela menina quando tivesse 33 anos? Como eu.
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