Transnístria: Como visitar um país Comunista que não existe!

Um país que não existe, mas que tem moeda própria, passaporte, fronteira, parlamento exército. Oi???? Sim… É a Transnístria. E tem mais!

Um país que parece ter parado no tempo, com carros antigos circulando pra lá e pra cá, estátuas de Lenin, Karl Marx e Stalin por todo canto e a bandeira vermelha com a foice e o martelo hasteada em diversos pontos da cidade. Tá bom??? Mas tem mais… tem muito mais na Transnístria!!!!

Vou te contar. Eu pirei mais lá do que em Chernobyl (veja o post). Tiraspol, a capital, é um museu a céu aberto. É como voltar no tempo e sentir como era viver em uma cidade comunista!!! É surreal.

Para começar, deixa eu te situar. A Transnístria é uma região separatista da Moldávia. Fica entre a Moldávia e a Ucrânia. Tem cerca de 500 mil habitantes e ficou fechada por décadas para qualquer estrangeiro.

Olha o que eu coloquei lá no stories do meu insta para resumir.

Transnístria – um país que não existe

Vamos ter um pouquinho de aula de história!!! Durante toda Guerra Fria, a Moldávia estava do lado dos comunistas. Na época em que o império soviético acabou, em 1991, a Moldávia quis estar mais alinhada à Romênia.

O problema é que parte da população não quis saber disso, principalmente uma parcela dos habitantes que ficava mais próxima à Ucrânia, de origem russa. Começou, então, uma batalha sangrenta que durou dois anos.

Depois de muitas mortes, o governo da Moldávia cansou e disse: “quer saber, vamos parar com esse conflito. Você querem ser comunistas, sejam! Mas não vão ter território separado coisa nenhuma”.

A população então se fechou naquela parte do país e estava tocando a vida, com bons níveis de saúde, segurança e educação. Só que tem umas histórias meio sombrias aí no meio.  

Uma é sobre a rede Sheriff, uma mega corporação de dois ex-agentes da KGB que é dona de tudo lá, e outra é que existem relatos de tráfico de armas pela fronteira com a Ucrânia. 

Esse é até um dos motivos do “país” ser mega desconhecido. Uma parte do mundo não queria que esse conflito servisse de exemplo para movimentos separatistas e a outra parte queria que os esquemas deles continuassem bem no mocó.

A abertura para o turismo 

A Transnístria ficou décadas fechada. Parecia que o tempo tinha parado por lá. Isso até 2014. Foi quando os Estados que apoiavam o esquema começaram a ter problemas econômicos. A Rússia, por exemplo, suspendeu parte da ajuda financeira para região.

Já a Ucrânia viveu uma série de conflitos e começou um processo de barrar qualquer progresso do Comunismo na região. Isso envolvia apertar os negócios e as fronteiras com a Transnístria.

Com a economia abalada, a Transnístria decidiu abrir as fronteiras, começar a receber turistas e se abrir pro mundo. Isso não tem nem 3 anos, então CORRE!!!!! Daqui a pouco vai estar tudo ocidentalizado ou mantido do jeito que está só pra turista ver. = (

O que fazer na Transnístria

Se você só ficar parado na pracinha já vai valer a pena ter ido. Você vai ver carros de 1946, monumentos soviéticos, prédios com aquela típica arquitetura de Brasília comunista e sentir que entrou num filme antigo. É um barato!

Mas você também pode seguir um roteiro turístico básico que criamos lá na hora e funcionou! Contamos com a ajuda de um mapa beeem simples distribuído no centro de visitante, que por um milagre estava aberto. A moça tava lá por um acaso.

Trocar dinheiro

Nunca tinha colocado trocar dinheiro como atração de um país. Hehehehehe. Mas é sim uma atração. Isso porque até hoje eles têm a foice e o martelo em algumas moedas do país. Assim como a nota, em alfabeto cirílico e um cara mal encarado em algumas cédulas. Ah! Gostei da calculadora pregada na loja de câmbio. Melhor invenção.

Fortaleza de Bender

Pra quem vem da Moldávia, Bender é a primeira cidade onde você pode parar. Lá, o lugar mais procurado é a Fortaleza. É uma área cercada, com construções antigas usadas para defesa da região. Tem aqueles típicos muros altos, torres e canhões para todos os lados. O legal é que você subir nos muros da Fortaleza e ter uma bela vista da cidade.

Estátuas

De Bender dá para ir para Tiraspol com os ônibus que passam lá a cada 15 minutos. Tiraspol é um dos únicos lugares da Europa onde você pode ver estátuas do Comunismo nos seus locais de origem. Elas foram criadas para aquele local e estão lá até hoje. Um exemplo é a estátua do Lenin no Parlamento. Mas é só passear por lá para ver outras do Marx, Engels e Yuri Gagarin.

Catedrais

Existem mil e uma igrejas e catedrais pela cidade. Uma mais bonita do que a outra e de diferentes estilos. Assim que saímos da última parada de ônibus de Tiraspol, foi só andar um pouquinho para ver várias numa pracinha da cidade. Estão todas em bom estado de conservação.

Edifícios

Quem gosta de arquitetura vai amar Tiraspol. Como não houve muita mudança por lá nos últimos 30 anos, você encontra uma arquitetura soviética preservada. É curioso circular pelas ruas encontrando aquelas linhas retas, espaços largos, prédios funcionais… isso no meio de umas loucuras típicas daquele período.

Bebidas da Transnístria

Aquela região da Europa é muito conhecida pelos vinhos e conhaques. Tiraspol tem uma grande indústria de bebidas, com uma fábrica no meio da cidade. É a KVINT. Lá, é possível visitar a indústria e degustar algumas das principais bebidas deles. A destilaria ocupa um prédio grande e tem uma loja logo no primeiro andar.

Comidas

Esse foi um dos pontos mais divertidos da viagem. Pegamos o mapa e vimos que tinha alguns restaurantes com comida soviética. Entramos num deles e pareceu que tínhamos sido transportados no tempo.

O restaurante não passava por uma reforma há uns 30 anos. As cortininhas comunistas estavam lá, assim como os bustos de Marx e Stalin. Uns quadros de alguns generais enfeitavam o salão do restaurantes junto com flores de plástico.

As mulheres naquele restaurante também eram uma atração à parte. O mal humor delas chegava a ser engraçado. Tentamos nos comunicar por google translate e foi uma comédia. Não conseguimos explicar o que queríamos e elas começaram a bater boca uma com a outra sobre o que deveriam nos servir.

No fim, a dona nos serviu uma sopas e cerveja. Não podia ser melhor pro frio que estava fazendo.

Como chegar na Transnistria

Juro por Deus que nunca tinha ouvido falar desse país antes de sair do Brasil. Eu sabia que queria ir da Romênia pra Ucrânia e que no meio do caminho tinha a Moldávia. Só isso.

O Leandro e eu temos a mania de viajar montando o roteiro enquanto estamos na estrada. E aqui vai um alerta! As coisa mudam. E mudam rápido hoje em dia. Quem pega um guia antigo da Colômbia nunca teria coragem de viajar, já que os guias velhos falariam de sequestros, drogas e guerras. Mas a gente já mostrou aqui no blog que viajar para Colômbia é maravilhoso!

O mesmo vale para quem pesquisa sobre a Transnístria hoje. Todos os post que achamos falavam que cruzar a Moldávia significava cruzar a Transnístria, um país perigoso, fechado, comunista e corrupto.

Só que quando chegamos em Chisinau, capital da Moldávia, descobrimos que isso era até uns três anos atrás, que o país estava se abrindo e que o povo lá era muito receptivo.

Existem várias formas de chegar lá. Tanto pela Ucrânia, quanto pela Moldávia e pela Romênia. Tem ônibus e trem. Nos saímos de Chisinau mesmo. De lá o turista tem duas opções.

A primeira é contratando uma das raras excursões oferecidas pelos hostels. A segunda é indo por conta própria numa vanzinha roots junto com os moradores.

Obviamente fomos sozinhos de vanzinha roots!

De Chisinau até Tiraspol, a capital da Transnístria, são cerca de 2 horas. A passagem custa o equivalente a 11 reais. Nós pegamos a van no Terminal Norte. Cuidado que são vários terminais na cidade!

Passando a fronteira

Eu disse que tinha fronteira, né? Pois é… Então separa o passaporte, porque mesmo a Transnistria não sendo reconhecida por quase ninguém, tem que passar por uma “migração”. Com direito a militares com aqueles quepes bem soviéticos para te olhar com cara de desconfiado.

Se você for ficar só um dia, é só apresentar o passaporte. Não tem carimbo no passaporte, o que me deixou bem triste… eles dão um papel, que você tem que apresentar na saída.

Caso contrário, tem que preencher uma papelada e ter reservado um hotel antes. Quando fomos, em novembro do ano passado, o país só tinha 3 hotéis e um hostel. Mas como eu disse, eles estão se abrindo ao turismo e já tem previsão de mais estrutura para este ano.

Bem, se você tá de passagem pelo Leste Europeu e curte aventuras, coloque a Transnístria no seu roteiro. É barata, bonita, muito doida e uma experiência única!!!!

Ah! ultima dica. Evite se machucar. Nenhum plano de saúde atende num “não país” e pelas ambulâncias que vimos lá… acho melhor ter todo cuidado do mundo!!!

Não tem erro! Qualquer dúvida é só colocar os comentários que eu respondo!

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