Um homem é rico na proporção das coisas que ele pode deixar para trás. – Henry David Thoreau
Ainda me lembro do meu primeiro mochilão, viajando pela Bolívia e Peru. Naquela época, só a minha mochila era maior do que a minha vontade de conhecer esses países. Quinze anos e vinte países depois, aprendi a viajar mais leve. A cada novo destino vou deixando mais coisas em casa. Vou compartilhar aqui um pouco do que eu aprendi.

Eu e a Bárbara Lins, com as nossas companheiras de viagem
Quanto levar e para quanto tempo?
Quando faço uma mala tenho dois objetivos: caber como bagagem de mão em uma viagem aérea e que possa ser carregada por uns 5 Km confortavelmente. Uma mala pequena e eficiente é suficiente até para viagens mais longas. Minha mochila para duas semanas é muito parecida com a para dois meses.

Missão cumprida!
Planejar e organizar
Insegurança e falta de planejamento ocupam muito espaço. É importante gastar um tempo planejando. Reserve uns dois dias e vá separando tudo que lhe parecer útil. Deixe tudo a vista e só então coloque na mala. Assim fica mais fácil perceber exageros.

Organização é tudo.
Na hora de colocar tudo dentro da bagagem vale lembrar da famosa lei da física: “Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, especialmente dentro de uma mochila”. Organização é tudo. Dobre bem as roupas (existem bons tutorias na internet). Utilize sacos plásticos para manter tudo bem dividido e, durante a viagem, use eles para separar o que está pronto para uso e o que precisa ser lavado. Use os bolsos de acesso rápido para privilegiar os itens usados com mais frequência. Mais uma dica: use liguinhas para fazer pacotinhos com suas meias e cuecas (ver foto acima) assim fica fácil de encontrar dentro da mochila.
Quantas roupas levar?
Você não precisa de uma roupa para cada dia de viagem. Repita isso como um mantra. É impressionante, mas todos os países que eu já visitei tinham dominado a arte de lavar e vender roupas. E olha que eu já visitei alguns buracos… Ah, também é importante saber que você não vai morrer se usar a mesma camisa por mais de um dia (não contem para a minha mãe).
A quantidade de roupas depende do tipo da viagem (clima, cidades visitadas, etc). A regra é escolher roupas versáteis, que combinam com tudo. Se você for para lugares frios e quentes na mesma viagem, não esqueça que dá para usar as roupas em camadas. O material das roupas também tem de ser levado em conta. A disputa fica entre roupas sintéticas e de algodão. As de algodão são mais confortáveis e transpiram melhor. As sintéticas secam rápido e quase não amassam. Para ter o melhor dos dois mundos, leve um pouco de cada (também existem tecidos que são uma mistura das duas malhas). Outro detalhe importante é escolher peças que caiam bem umas com as outras, seja no corte ou na cor.
Não é preciso economizar tanto com as roupas de baixo. São compactas e pesam pouco. Levo uns seis conjuntos de cuecas e meias. Também nunca deixo de levar um calção de banho, mesmo se a viagem for para algum lugar frio. Não é raro encontrar hotéis e hostels com piscinas aquecidas.
Evite levar toalhas de banho. Pesam e ocupam muito espaço. Quase todo hotel ou hostel oferece uma. Levo somente uma toalha pequena e de alta absorção. Não são tão boas, mas valem a pena pela praticidade.
Também nunca levo pijamas ou roupas exclusivas para dormir. O ideal é levar uma roupa confortável e simples para dormir. Em caso de emergência, dá para usar ela também como roupa do dia a dia.
Lave suas roupas durante a viagem
Na falta de uma lavanderia, vá de “sink laundry” (a fina arte de lavar a roupa nas pias dos hotéis e albergues). Secar não é um problema se a viagem for para algum lugar quente. Em climas mais frios, vai uma dica: use uma toalha seca, estendida em cima da cama. Coloque a roupa por cima e vá enrolando a toalha o mais apertado que conseguir. A toalha vai absolver muito da humidade da roupa, facilitando a secagem. Existem vários tutoriais com dicas sobre o “sink laundry”.

Eu fazendo sink laundry, flagrante da Bárbara Lins.
O diabo e o peso moram nos detalhes
Escova de dente mini, pente compacto, itens de higiene pessoal em tamanho menor, garrafa d’água dobrável, smartphone ao invés de tablet…. Individualmente a diferença de peso e tamanho nesses itens é quase nada. Carregue tudo isso nas costas por alguns quilômetros e a diferença não será tão pequena. Também vale lembrar das restrições para bagagem de mão em voos internacionais: líquidos com até 100ml e que caibam em uma embalagem transparente de no máximo 20 cm x 20 cm.
O pensamento de “e se eu precisar?” nos faz levar uma série de objetos inúteis. Esqueceu alguma coisa? Dá sempre para comprar na vendinha da esquina. Seja na Bahia ou no Camboja.
Use a tecnologia a seu favor
Um smartphone com bons apps pode servir como tradutor, mapa, player de música, etc. Ele um excelente companheiro de viagem (só tome cuidado para não ficar pendurado nas redes sociais e esquecer de curtir a viagem). Celulares andam tão versáteis que eu só tenho levado notebooks em último caso.
Esqueça também os livros e guias de viagens. Migrei para um e-reader e não me arrependo. Usando um leitor digital dá para levar uma biblioteca que não pesa quase nada e que ocupa pouco espaço.
Mala ou Mochila, eis a questão
A resposta para essa milenar questão (tá, talvez não tão milenar assim) vai depender do tipo de viagem e do tipo de viajante. Mochilas são fantásticas para quem quer mobilidade. Malas mantêm as roupas mais bem organizadas. Para a maioria das viagens que eu faço, prefiro o mochilão. Só uso malas em viagens a trabalho, onde é importante que as roupas estejam passadinhas. Um alerta: muito cuidado com as malas de rodinhas. Elas são bem práticas para algumas situações, mas podem passar uma falsa sensação de mobilidade. Já cansei de ver turistas sofrendo com malas gigantescas, tentando embarcar em trens ou subir escadas. Seja uma mochila ou uma mala, nunca leve uma bagagem que você não consegue carregar.

Carregadores cobrando U$ 10 em Veneza levar malas até o hotel
Não tente competir com o Papai Noel
Lembram do meu primeiro mochilão, na Bolívia e no Peru? Retornei dele com dois quadros, uma maquete em barro de Machu Picchu, uma camiseta “moda Inca” ridícula e um poncho. Sem falar em algumas outras traquitanas. Comprar é parte de uma viagem. Só tome cuidado para não deixar isso se transformar em uma compulsão. Não se esqueça: viajar não te obriga a comprar uma lembrancinha para cada um dos seus amigos, conhecidos e parantes. Segundo, evite virar sacoleiro dos outros. Tem gente que é muito sem noção e pede para o viajante trazer tudo quanto é bugiganga. Isso pesa na mala, dá trabalho para encontrar e, em vianges internacionais, ainda come a sua cota de importação. Se você tiver com vontade de trazer algo para alguém ou se deparar com um presente maneiro, ótimo. Caso contrário, não se sinta culpado.
Reserve um espaço para o que faz você ser você
Viajar leve é ser livre. A ideia não é viajar com quase nada. O objetivo é viajar com tudo que é essencial. E como somos todos diferentes, cada um vai definir o que é indispensável para si. Sou apaixonado por fotografia, então quase metade do meu peso vem de câmeras e lentes (ando praticando o desapego na hora de levar os equipamentos fotográficos, mas alguns ainda são levados). Para uma pessoa que ama uma boa festa, o essencial pode ser um conjunto de roupa que não faça feio em nenhuma balada. Ou um violão, para quem ama música…

Sempre levo a câmera e o Kindle na bagagem (a cerveja eu não levo de casa, mas arranjo uma na primeira oportunidade)
Montar uma mala é algo muito pessoal. Envolve escolhas e decisões que serão diferentes para cada um. Não existe uma fórmula mágica. Com uma mala menor e mais leve você viaja melhor e vai mais longe.
Resumão
- Tenha uma visão geral do que vai levar. Tempo gasto organizando é recompensado com mochilas leves;
- Aprenda a dobrar bem as roupas e faça “pacotinhos” para manter tudo arrumado;
- Escolha uma mala adequada para o seu tipo de viagem. Nunca faça uma mala que você não consegue carregar;
- Vá de mini! Dê preferência para itens pequenos, leves e multifuncionais;
- Não esqueça das regras para bagagem de mão em aviões;
- É mais fácil comprar o que faltou do que jogar fora o que sobrou;
- Diga não ao “uma roupa por dia”. Lave as suas roupas durante a viagem;
- Escolha peças versáteis e preste atenção nos materiais;
- Não tente competir com o Papai Noel. Não se sinta na obrigação de comprar presentes;
- Reserve um espaço para os itens que são essencias para você.
O que eu levo
De maneira geral, o meu mochilão contém:
- Moneybelt para passaporte, documentos, dinheiro, etc;
- Caderninho e canetas;
- Nécessaire com itens pequenos e alguns medicamentos básicos;
- Sacolas tipo zip-lock para organizar tudo;
- Seis conjuntos de meia e cueca;
- Quatro camisetas;
- Uma camisa social de tecido misto algodão/sintético;
- Duas calças (uma que vira bermuda e uma mais tradicional, sem tanta cara de turistão);
- Uma jaqueta ou fleece, caso a viagem seja para algum lugar frio;
- Uma bermuda, caso a viagem seja para algum lugar quente ou moderado;
- Toalha de secagem rápida;
- Óculos escuros;
- Chinelo leve;
- Tênis confortável para camanhiar (bota de trekking só para viagens com trilhas);
- Câmera e acessórios;
- Telefone e acessórios (fone de ouvido, bateria externa, etc);
- Kindle;
- Lanterna pequena (para não incomodar os outros em quartos de hostel);
- Um bocado de elásticos plásticos (as famosas liguinhas) para manter tudo organizado.
8 comentários
Adorei!!!
Você tem Irmão???
Opa. Fico feliz que tenha gostado. Eu, que escrevi o post, tenho um irmão sim. A Babi, dona do Blog, também tem um irmão…rs. Tá falando de qual irmão?
Ai… perdidona para o frio q vou enfrentar em breve 😳
Pq, Edna!!! Me conta seus problemas que eu ajudo!
Mandou bem, Leandro!! Só fica boa! Blog da Babi cada dia mais profissa!!! 👏👏👏
Uhuuuuuuuuuu! Vamos juntos!
Valeu Caio!
Leandro adoooorei seu post sobre como viajar leve! Dicas simples e fáceis de se colocar em prática! Vou experimentar assim que a pandemia acabar. Será minha primeira experiência de mochilão. Deseje-me sorte! E obrigaduuuu!